
- Procuro-te, avançando aparentemente decidida,
Porém, deslizo ondulante, sinuosa, lânguida,
Por arestas que quem sabe sejam jamais buriladas.
- Esquivo-me, ancorado em meu relutante compromisso.
De andar disperso e descrente, incubado, módico,
Como quem sequer aspira ser tocado por um corpo.
- Domando vertigens, medos, silêncios pragmáticos.
Mistificando rituais, aventuro-me a alcançar tua alma,
Tocar tua matéria com a compostura de um faquir.
- Remonto ao passado, árduo, num choro copioso, assim
Querendo muito farejar uma última ilusão esquecida
Num mar de puro escárnio para cogitar o teu afã.
- Afrontando os desejos desta carne que me veste
E me conduz mansamente pelos obscenos sonhos,
Abandono-me no sentimento que provocas.
- O braseiro que acendes quando volta e meia volta
Encarcera-me desnudo, tateando o precipício,
Optando, num flash, entre o vôo e o ocaso.
- Calando meus barulhos, sorvo o cálice que me ofereces,
Perfilhando os efeitos de tuas estratégias,
Que avivam meu sangue com veladas promessas.
- É mais do que verdade o meu amor ávido por esperanças,
Que suplanta o leito de tristezas onde pernoito
E permite que eu cobre-me um bissexto rompante.
- Cala-te, pois eu quero.
- Calo-me, pois me rendo.
Glória Salles & Abel Puro
Setembro 2009
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